Esta publicação também está disponível em:
O papel da biópsia endomiocárdica no diagnóstico e tratamento de doenças cardiovasculares é controverso, e a prática varia bastante entre os centros de excelência em todo o mundo.
Para revisar a literatura existente e criar recomendações, foi formado um grupo de médicos das sociedades americana (AHA e ACC) e européia (ESC) de cardiologia.
Há 2 situações com indicação classe I.
– Pacientes com quadro de insuficiência cardíaca (IC) recente, com menos de 2 semanas de duração, com ventrículo esquerdo (VE) de tamanho normal ou dilatado, com comprometimento hemodinâmico necessitanto de suporte inotrópico ou balão intra-aórtico;
– Pacientes com quadro de IC recente, com 2 semanas a 3 meses de duração, com dilatação de VE e arritmia ventricular (TV sustentada / sintomática), BAV de alto grau (2º ou 3º grau) ou falha à resposta ao tratamento usual.
A realização de biópsia nesses casos pode ser importante porque pode implicar em mudança no tratamento. Casos de miocardite por células gigantes, por exemplo, são geralmente fatais, e podem responder à imunossupressão e podem precisar de transplante cardíaco. O achado de granulomas pode sugerir sarcoidose, que podem ser tratados com imunossupressão. Miocardite eosinofílica também costuma responder à terapia com corticóides.
Além de poder mudar o tratamento, a biópsia pode nos ajudar a definir o prognóstico. Casos com miocardite linfocítica fulminante, por exemplo, caso consigam sobreviver ao quadro agudo (que muitas vezes necessita de suporte inotrópico ou mecânico), geralmente respondem bem ao tratamento e podem evoluir com reversão da disfunção miocárdica.
É indicação classe IIa se cardiomiopatia dilatada com suspeita de reação alérgica e/ou eosinofilia; se IC com suspeita de cardiomiopatia por antracíclico; IC por cardiomiopatia restritiva inexplicada; alguns tumores cardíacos; e cardiomiopatia inexplicada em crianças.
E indicação classe IIb se suspeita de displasia arritmogênica de VD; se arritmias ventriculares inexplicadas; se IC recente sem arritmia ventricular ou BAV que responde bem ao tratamento clínico.
O risco de perfuração é 1 em 250, e o risco de morte, 1 em 1000. Complicações menores como hematoma no acesso ou bloqueio de ramo transitório podem acontecer em até 6% dos casos.
Referência: Endomyocardial Biopsy in Cardiovascular Disease. Cooper et al. J Am Coll Cardiol 2007; 50:1914-1931.